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DESCOLONIZAR O FUTURO

Por mais de meio século a colonização adentrou nos territórios latinos. Essa invasão chamada "descoberta" mudou o impacto dessa realidade. A história do mundo foi abalada e contada sob um ponto de vista eurocêntrico. Esse fato resultou em um profundo apagamento dos originários da terra e sua verdadeira história. Essa invasão trouxe dores e traumas que se perpetuaram ao longo do tempo. Mas ainda há tempo de falarmos sobre essas verdades não contadas. Sobre corpos, narrativas e emoções enterradas. E como se pode olhar para um futuro menos doído, genocida e violento. A construção do valor do pertencimento é um ato de resistência. E parar curar precisamos pertencer. E pertencendo, podemos nos orgulhar. A América Latina está vivendo esse resgate. É muito importante que o Brasil avance e acolha essas potencialidades indígenas quanto territórios latinos. Isso costura profundamente as conexões de responsabilidade social e reparações históricas. É possível falarmos de avanços sem falar da retomada de identidade, cultura, bem viver e pluralidades étnicas? Penso que não. Impossível fazermos esse caminho de volta sem abordarmos esses pontos tão necessários, legítimos e urgentes. Para afundarmos caravelas sociais, precisamos produzir o sentimento anti colonial. Só assim conseguimos sonhar com um futuro mais igualitário e essencialmente bom. Se a sociedade latina por mais de 5 séculos desaprendeu a se enxergar, precisamos de novas lentes. Para que a gente se perceba como verdadeiramente somos; filhos dessa terra que sangrou e sangra; filhos que se levantam em movimento de cura. Curandeiros e curandeiras de si mesmos. O ponto de partida está dentro de nós. Processos individuais podem nos estimular vivências coletivas. Na medida que nos voltamos para dentro de casa, enxergamos o que nos falta. Mas se a gente olhar pela janela, talvez a gente entenda que não falta só aqui. Coletividades e conectividades caminham lado a lado rumo ao re-existir. Pode parecer utópico, mas é a urgência dos mundos. O nosso mundo interno; nossas histórias pessoais, origens, raízes e conexões com o passado. Precisamos voltar. Resgatar internamente para refletir externamente. Conectar as relações para além do território brasileiro, com entendimento sobre nossa diversidade cultural e histórica. Nossas dores vão sarar. Mas o futuro não virá da noite para o dia. Precisamos ser pacientes. Essa paciência começa dentre nossas gentes. A colonização contaminou muitos corações. Há pessoas indígenas mais colonizadas que pessoas brancas. E nesse sentido, não cabe julgamentos. Cada indivíduo tem o seu próprio tempo. E esse tempo pode estar conectado as percepções. O horizonte é um futuro que pode estar muito perto ou muito longe. Tudo depende do ponto de partida, do ângulo, das perspectivas. É preciso antes de tudo, descolonizarmos a nós mesmos. Aos nossos parentes; nossas gentes envenenadas; outrora saqueadas, violentadas, abusadas, enganadas, colocadas em um lugar de selvageria e infantilidade. Sempre sendo inferiorizadas e menosprezadas em algum nível. Depois de mais 500 anos, o mundo começa a reconhecer globalmente a importância da nossa existência. É cansativo para quem esteve antes de nós e para a nossa geração que já cresceu lutando para existir.

Imagem autoral: produzida e dirigida por Dayana Molina, atriz e performance Zahy Guajajara, fotografia Mateus Santanna, produção e assistência de fotografia Glauco Oliveira. Zahy Guajajara segura um peixe simbolicamente envenenado pelos rios. O peixe que é um alimento sagrado para muitas culturas indígenas, tem sido assassinado como os nossos ancestrais; fruto de uma imposição social de falsa modernidade. O que resulta em uma inversão de valores. Que para ser sociável precisamos enterrar os rios e asfaltar as florestas. Para Dayana Molina, a descolonização é uma urgência para que peixes e gentes continuem vivendo.

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